Mistério ao largo da costa portuguesa: o caso do navio “Adler”
O que aconteceu
O navio russo “Adler”, sujeito a sanções internacionais, esteve à deriva ao largo da Zona Económica Exclusiva (ZEE) de Portugal Continental entre 27 de agosto e 2 de setembro.
Localmente, aproximou-se da costa perto da Póvoa de Varzim, chegando a cerca de 16 milhas náuticas a oeste desse ponto.
O problema principal foi uma avaria na propulsão: o navio perdeu força para se movimentar, o que levou-o a derivar em direção à costa.
Como medida preventiva (para evitar riscos de acidentes, ambientais ou de navegação), a Marinha portuguesa contactou o comandante do “Adler” para contratar rebocador.
O navio acabou por ser rebocado por uma embarcação espanhola (“rebocador espanhol ‘Roma’”) quando tinha ainda cerca de 16 milhas do litoral da Póvoa de Varzim, para evitar uma entrada acidental em águas territoriais.
Antes disso, o navio transitou a ZEE de norte para sul. Nunca, de acordo com as autoridades portuguesas, entrou em águas territoriais nacionais (que ficam até 12 milhas náuticas da costa).
Depois de sair da ZEE portuguesa em 2 de setembro pelo sul, o “Adler” foi rebocado até Orão, na Argélia, onde está atualmente atracado.

Contexto e relevância
O “Adler” está incluído numa lista negra de sanções: nomeadamente pelo Office of Foreign Assets Control (OFAC) dos EUA, e existem acusações de que o navio já teria sido usado para transportar material militar (armas, mísseis) — embora o tipo de carga neste incidente específico não tenha sido confirmado pelas autoridades portuguesas.
O navio também já havia tido problemas de navegação em incidentes anteriores, como perda de propulsão em 2019 no Estreito de Istambul.
A proibição de atracar em portos europeus decorre precisamente das sanções, o que dificulta movimentações normais e acrescenta tensão e suspeita sobre qualquer incidente envolvendo o navio.


O que não se sabe / permanece incerto
Qual era exatamente a carga que o navio transportava neste episódio. Apesar de haver suspeitas, não há confirmação oficial.
Qual era o destino final pretendido. O navio não terá divulgado para onde se dirigia.
Número exato de tripulantes, se houve fiscalização ou inspeção formal por parte das autoridades portuguesas, e se houve contacto diplomático ou militar além do reboque.
Detalhes mais precisos sobre a natureza da “avaria na propulsão”: se foi falha mecânica grave, sabotagem, ou outra causa.

Implicações potenciais
Segurança marítima: Um navio à deriva pode representar risco de colisão, poluição marítima (se houver vazamentos), ou mesmo impacto ambiental costeiro se encalhar. Portugal, como país costeiro, tem interesse direto em evitar qualquer tipo de incidente.
Cumprimento de sanções internacionais: Este caso testa a capacidade de Portugal (e da União Europeia) para monitorizar navios suspeitos, aplicar sanções, e agir preventivamente.
Diplomacia / relações internacionais: A presença de uma embarcação russa sob sanções, com histórico suspeito, próxima da costa portuguesa, levanta questões sobre vigilância, resposta militar ou policial, e comunicações com parceiros internacionais.
Precedente legal e normativo: A distinção entre águas territoriais (12 milhas náuticas) e a Zona Económica Exclusiva (até 200 milhas) é importante: na ZEE, Portugal tem direitos económicos mas não de soberania plena. Esse “direito de rebocar” por razões de segurança ou ambientais, a obrigação de cooperação internacional, etc., são pontos de interesse legal.

Conclusão
O episódio do “Adler” é um exemplo claro de como questões geopolíticas, segurança marítima, sanções internacionais e soberania nacional se cruzam no contexto do espaço marítimo moderno. Embora o navio não tenha violado formalmente as águas territoriais portuguesas, o fato de estender-se a ZEE e de aproximar-se da costa trouxe riscos e reforçou a necessidade de vigilância e coordenação internacional.
