Lítio em Portugal e Corredor do Lobito: riqueza para quem?
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacou recentemente o potencial do lítio em Portugal e o papel estratégico do Corredor do Lobito, em Angola, como eixos fundamentais para garantir matérias-primas críticas à Europa.


O discurso sublinha a ambição europeia de reduzir a dependência da China e reforçar cadeias de valor locais. Mas, por trás da retórica, levanta-se uma questão: quem, de fato, lucra com essa corrida?
Em África, a promessa de modernização traz o risco de repetir velhos padrões de exploração. A extração e transporte de minerais costumam gerar poluição, deslocamento de comunidades e pouca redistribuição de benefícios. Historicamente, os povos africanos ficam com os impactos ambientais e sociais, enquanto o verdadeiro valor agregado — refinação e exportação — foge das fronteiras locais.


Von der Leyen garantiu que o modelo europeu será diferente, investindo em formação e indústrias de processamento local. Porém, organizações sociais alertam: sem mecanismos claros de transparência, regulação ambiental e participação das comunidades, o Corredor do Lobito pode transformar-se em mais um capítulo de extração predatória travestida de desenvolvimento.
O desafio é transformar o discurso de “parceria” em prática real, onde a riqueza não seja apenas exportada, mas também revertida em benefício direto para as populações africanas.
