Boicote radical na Coreia do Sul: o movimento 4B ganha visibilidade
Seul — Um vídeo divulgado pela DW Brasil sob o título “O país onde o boicote radical aos homens se espalha” chama atenção para uma tendência crescente entre algumas jovens sul-coreanas: o movimento conhecido como 4B. Trata-se de um tipo mais radical de feminismo que propõe quatro “nãos” — não namorar, não casar, não ter relações sexuais heterossexuais, e não ter filhos.
Origens e motivações
O movimento surge como reação a pressões culturais e sociais profundas na Coreia do Sul, onde expectativas sobre mulheres envolvem casamento e maternidade como parte central da identidade feminina. Também estão presentes o peso do machismo institucional, desigualdades no trabalho, altas taxas de estresse, expectativas domésticas e discriminação de género.
Outro fator importante é o pragmatismo: taxas de natalidade muito baixas, aumento do custo de vida, dificuldades para conciliar trabalho e família, e a percepção de que o sacrifício imposto às mulheres para cumprir normas tradicionais pode não compensar. Isso vai além de ideologia — é também uma resposta ao cotidiano.

Como se manifesta
As adesões ao movimento são, em grande parte, virtuais: redes sociais, fóruns, blogs, grupos anônimos ou semi-anônimos ajudam a divulgar ideias, relatos pessoais e convites ao boicote ou afastamento de expectativas românticas/tradicionais.
O estilo de vida associado ao 4B às vezes envolve rejeição de padrões estéticos esperados (como maquiagem ou roupas mais femininas), embora isso varie bastante de pessoa para pessoa.
Impactos e debates
Crítica social: O movimento 4B provoca um debate intenso. Para algumas mulheres, é uma forma legítima de protesto contra um sistema que consideram opressor ou injusto. Para outras, é percebido como exagerado, divisivo, ou pouco prático. Há quem questione se boicotar completamente relacionamentos, sexo ou maternidade é sustentável ou saudável emocionalmente.
Reação masculina: Muitos homens veem o movimento como algo radical ou agressivo — há acusações de que o 4B seria uma resposta extrema ao desconforto masculino com o avanço dos direitos das mulheres. Alguns têm medo ou ressentimento.
Marginalização e visibilidade: Embora o movimento esteja crescendo em visibilidade, ainda é visto por muitos como marginal. Não há estimativas confiáveis de quantas pessoas aderem ativamente, em parte porque justamente muitos dos participantes mantêm anonimato ou atuam nas redes sociais.

Questões éticas e culturais
O movimento levanta dilemas sobre equilíbrio entre liberdade individual e responsabilidades sociais: até que ponto alguém pode ou deve “renunciar” a aspectos da vida (relacionamentos, família, intimidade) como forma de protesto ou autopreservação?
Também coloca em destaque como normas de género persistem fortemente, mesmo em sociedades muito modernas e tecnologicamente avançadas como a sul-coreana. Isso mostra que o desenvolvimento econômico ou educativo não resolve por si só desigualdades de género ou expectativas culturais arraigadas.
Há risco de polarização: o 4B pode reforçar divisões entre gêneros, gerar reações de hostilidade, ou alimentar retóricas de vítima-culpa (para mulheres que não aderem, ou que optam por caminhos tradicionais), ou de “culpa social” por causa da queda da natalidade ou “abandono” de papéis tradicionais.
Considerações finais
O movimento 4B não é homogêneo — há graus diferentes de adesão, motivações diversas e muito diálogo dentro dele. Não se trata de uma “moda” simples, mas de um reflexo (e amplificação) de problemas reais: desigualdade de género, pressão social, expectativas contraditórias, saúde mental, direitos reprodutivos. Mesmo que não se torne predominante, o 4B exerce papel importante de incitar debate, questionar o status quo, e dar voz a quem se sente pressionada a viver de acordo com normas que não quer.
