“Me senti uma bandida”: brasileira denuncia abordagem da polícia para imigrantes em salão de beleza em Portugal

Sep 23, 2025By Gilson Pimentel
Gilson Pimentel

Lisboa — A cabeleireira brasileira Ariana Vitória, que vive em Portugal e está com o processo de regularização em andamento na Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), relatou ter sido vítima de uma abordagem abusiva por parte da polícia responsável pela fiscalização de imigrantes. O caso ocorreu dentro de um salão de beleza, onde Ariana trabalha, e levantou críticas quanto ao tratamento dado a estrangeiros no país.


O que aconteceu

Segundo o relato da profissional, agentes entraram no salão durante uma ação de fiscalização e exigiram a apresentação de documentos de estrangeiros. Ariana conta que, apesar de estar legalmente no país e com a documentação em processo de tramitação na AIMA, sentiu-se constrangida e humilhada:

“Me senti uma bandida. Estava a trabalhar normalmente quando eles entraram e começaram a pedir papéis, como se eu fosse criminosa”, disse Ariana em entrevista ao jornal Público.

Ela também destacou que a abordagem foi feita diante de clientes, aumentando o sentimento de exposição e discriminação.

Balcony and flag

O enquadramento legal

Portugal vive um momento de pressão no sistema de imigração: só em 2024, havia mais de 400 mil processos pendentes na AIMA, antiga SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras).
Muitos imigrantes — sobretudo brasileiros — vivem legalmente no país, mas aguardam a conclusão de processos de regularização. Durante esse período, a lei garante direitos básicos de residência e trabalho.
No entanto, a lentidão da máquina administrativa deixa milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade documental, facilmente confundidas com irregulares em batidas policiais.

Portuguese Flag in Coimbra


Reações e críticas

Organizações de defesa dos direitos humanos e associações de imigrantes denunciaram a ação como um exemplo de xenofobia institucional e de abordagem desproporcional.

Especialistas em migração apontam que a prática de fiscalizações em locais de trabalho, sem critérios claros de proporcionalidade, pode reforçar estigmas contra estrangeiros, em especial brasileiros, que já são o maior grupo migrante em Portugal.

Além disso, casos como o de Ariana reforçam a sensação de insegurança entre trabalhadores imigrantes, que relatam medo constante de perseguição mesmo estando com processos legais em andamento.



O que diz o governo

Até o momento, o Ministério da Administração Interna não comentou especificamente o caso de Ariana. Em outras ocasiões, autoridades portuguesas têm defendido que as operações de fiscalização são “rotinas necessárias” para garantir a legalidade no mercado de trabalho.

A AIMA, por sua vez, reconhece que há atrasos significativos na análise dos processos de residência e prometeu reforçar o número de funcionários para reduzir as pendências.

Portuguese police tape


O retrato de uma tensão crescente

O episódio vivido por Ariana Vitória soma-se a um conjunto de relatos recentes de brasileiros que afirmam sentir-se alvo de estigmatização e hostilidade em Portugal. Pesquisas recentes já apontam que casos de xenofobia contra imigrantes brasileiros aumentaram mais de 20% no último ano, com grande parte ocorrendo em contextos de trabalho e serviços públicos.

O caso reacende o debate sobre como equilibrar políticas de fiscalização de imigração com a garantia de dignidade, respeito e integração para quem escolheu Portugal como casa.