“Limitado pela intuição” e com discurso “à taberneiro”: o que disse Mithá Ribeiro sobre Ventura antes de sair do Parlamento
Lisboa — No dia em que anunciou a renúncia ao mandato parlamentar, Gabriel Mithá Ribeiro, antigo deputado do partido Chega, deixou claras críticas ao estilo e à liderança de André Ventura. As declarações ganharam destaque na imprensa portuguesa, especialmente após a publicação do livro Por Dentro do Chega, do jornalista Miguel Carvalho, onde Mithá Ribeiro revela reflexões mais íntimas sobre as dinâmicas internas do partido.

O contexto
Mithá Ribeiro solicitou a renúncia como deputado pelo círculo de Leiria. O Chega anunciou que Rui Fernandes será seu substituto.
Oficialmente, a saída foi justificada por razões pessoais. André Ventura, líder do partido, agradeceu-lhe o trabalho realizado, desvalorizando qualquer tensão interna.
No entanto, fontes jornalísticas apontam que as críticas de Mithá Ribeiro à forma como o partido tem sido conduzido, especialmente em relação à liberdade de expressão, qualidade do discurso e abertura intelectual, podem ter sido parte significativa da motivação para a decisão.
O que Mithá Ribeiro disse
Alguns dos pontos mais fortes do que Gabriel Mithá Ribeiro afirmou:
“Limitado pela intuição”
Mithá Ribeiro descreve Ventura como alguém com “uma inteligência rara”, que “fala com o coração”, mas cuja intuição e apego ao emocional limitam a profundidade e o alcance do discurso do partido. Ele afirma que Ventura opta frequentemente por rejeitar discursos ou propostas mais analíticas, preferindo uma abordagem mais imediatista.
Discurso “à taberneiro”
Segundo Mithá, o Chega, sob a liderança de Ventura, utiliza um tipo de linguagem popular, agressiva ou brusca — comparável à de uma taberna — para mobilizar simpatizantes, mas isso tem custos: enfraquece o debates sobre temas “arriscados” como racismo e fascismo, que, para ele, deveriam ser discutidos com mais rigor e com participação intelectual, incluindo dos militantes.
Falta de abertura a temas e ao pensamento crítico interno
Mithá Ribeiro ressalta que existia uma vontade de implementar no partido uma maior densidade intelectual, que capacidades de análise ideológica e reflexão acadêmica fossem melhor consideradas. Ele aponta que esse tipo de abertura tem sido dificultado por aquilo que chama de resistência interna, falta de confiança e decisões centralizadas.

Possíveis razões da desavença
O afastamento de Mithá Ribeiro do Gabinete de Estudos do Chega foi um dos episódios centrais desse descontentamento.
Ele considerava que isso representava uma falta de confiança por parte de Ventura, bem como um impedimento para eficaz liberdade de pensamento no partido.
Também se referia a episódios de “desgaste”, rumores de que estaria “queimado” no grupo parlamentar, entre outras tensões internas na base do partido.

Reação e implicações
Ventura, por sua vez, reagiu minimizando os atritos. Diz que Mithá Ribeiro deixou o mandato por motivos pessoais, agradeceu seu serviço ao partido e afirmou que não há cisão ou divisão relevante.
A substituição prevista de Mithá Ribeiro por Rui Fernandes já foi comunicada.
Análise final
As palavras de Mithá Ribeiro revelam que internamente existe um debate considerável sobre o estilo de liderança no Chega: entre uma abordagem populista, emocional e voltada para o discurso direto, e outra que busca maior reflexão, estrutura intelectual e abertura para questionamentos ideológicos.
Seja qual for o peso real dessas críticas na decisão de renúncia, elas expõem fragilidades no equilíbrio entre coesão partidária e diversidade de pensamento — um dilema comum em partidos em crescimento rápido. Também sinalizam a tensão entre eficácia política (que muitas vezes demanda clareza e apelo direto) e qualidade do debate público (que exige nuance, profundidade, abertura).
