Quando o palco se transforma em opressão: António Capelo enfrenta denúncias de assédio na ACE

Gilson Darcy
Sep 15, 2025By Gilson Darcy

A denúncia caiu como uma bomba no meio cultural português. O ator e encenador António Capelo, fundador da ACE Escola de Artes – Teatro do Bolhão, no Porto, é acusado por ex-alunos de assédio sexual e moral dentro da instituição que ajudou a criar.


O que dizem as vítimas

Segundo relatos tornados públicos por uma página anónima no Instagram e confirmados em entrevistas a jornais portugueses, Capelo teria:

enviado mensagens de teor sexual a estudantes, alguns ainda menores de idade;
feito convites insistentes para encontros privados;
usado exercícios de interpretação como pretexto para toques íntimos e constrangedores;
insinuado que a recusa poderia prejudicar a carreira dos jovens.

Uma ex-aluna, hoje adulta, descreveu a experiência como “um pesadelo mascarado de arte”, relatando episódios de humilhação e manipulação psicológica. Outro estudante contou ter sido submetido a exercícios em que o encenador se deitava sobre ele, atitude que considerou abusiva e intimidadora.


A resposta de Capelo

O encenador nega categoricamente todas as acusações. Para ele, os gestos descritos foram apenas expressões de proximidade e apoio no contexto pedagógico. Além disso, apresentou queixa-crime por difamação contra a página que divulgou os testemunhos.

A Inspeção-Geral da Educação e Ciência (IGEC) abriu um inquérito para apurar os factos.
A direção da ACE apresentou demissão em bloco, justificando que o momento exige “serenidade e estabilidade” para proteger os valores da escola.
Movimentos sociais e coletivos estudantis anunciaram manifestações em frente à instituição, exigindo justiça e apoio psicológico para as vítimas.


Um debate que vai além do caso

Mais do que um episódio isolado, o caso expõe um problema estrutural: a relação de poder em escolas artísticas, onde jovens, muitas vezes vulneráveis, dependem da aprovação de mestres consagrados. Especialistas alertam que, nesse cenário, o risco de abuso é potencializado e a denúncia se torna ainda mais difícil por medo de represálias.