Governante, hotel e redes criminosas: o que se descobriu em Timor-Leste
O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) divulgou recentemente um relatório que aponta para um conjunto de problemas sérios em Timor-Leste, especialmente no enclave de Oecussi. As investigações identificam ligações entre autoridades do governo, hotéis suspeitos, empresas de jogo e redes criminosas digitais.
Principais acusações
1. Envolvimento de governantes no Hotel A
Uma pessoa que ocupa cargo no governo é coproprietária de um hotel (“Hotel A”) que parece abrigar empresas envolvidas em atividades ilícitas. O hotel está associado, por interesses comerciais, a outro estabelecimento hoteleiro em Díli ligado à antiga liderança da Região Administrativa Especial de Oecussi (RAEOA).
2. Jogo ilícito online, burla informática e fraude digital
• Foi identificada uma empresa designada “Tech Company A” ligada ao projeto de identificação digital da zona, cujo presidente foi condenado em Singapura por conspiração em caso envolvendo dados pessoais roubados usados em golpes online.
• Outra empresa de jogos (“Gaming Company A”), de um amigo desse mesmo presidente, opera com licença nacional de jogo, mas realiza atividades de jogo online offshore e administra dezenas de domínios suspeitos.
• A polícia prendeu 10 pessoas no enclave de Oecussi sob suspeita de exploração de jogos ilegais e burla informática.
3. Corrupção, uso fraudulento de passaportes e estruturas corporativas
O relatório aponta para uso de processos de cidadania por investimento e obtenção fraudulenta de passaportes para facilitar movimentações de indivíduos envolvidos em redes criminosas.
Também se identificam complexas redes de afiliações corporativas entre hotéis, empresas de jogos e autoridades, dificultando fiscalização.

Implicações e riscos
• Para Timor-Leste: risco de reputação e segurança diante de autoridades internacionais; possibilidade de que essas práticas sejam usadas para lavagem de dinheiro, fraude transnacional, exploração ilegal e evasão de responsabilização.
• Na adesão à ASEAN: a UNODC alerta que o país pode ficar vulnerável ao tráfico, ao cibercrime e à expansão de redes criminosas, sobretudo porque zonas especiais como Oecussi oferecem incentivos econômicos que podem ser explorados.
• Para a população local: jogos ilegais e fraudes causam perdas financeiras, desigualdades, risco de dependência, e podem minar a confiança nas instituições.

O que se pode fazer / o que está a ser feito
• Autoridades de Timor-Leste já efetuaram operações policiais em Oecussi, detendo suspeitos de jogos ilegais e fraudes informáticas.
• Substituição de lideranças regionais em Oecussi, assim como extinção de comissões envolvidas na zona económica especial.
• Organizações civis apontam a necessidade de regulação mais rigorosa do setor de jogos, transparência nos contratos, forte supervisão financeira, cooperação internacional para prevenir crimes digitais.