António Agostinho Neto (1922–1979) – Médico, Poeta e Primeiro Presidente de Angola

Sep 04, 2025By Gilson Darcy
Gilson Darcy

António Agostinho Neto nasceu em 17 de setembro de 1922, na cidade de Ícolo e Bengo, então pertencente à colónia portuguesa de Angola. Desde cedo demonstrou um profundo interesse pela educação e literatura, um traço que marcaria toda a sua vida. Neto estudou em Luanda antes de se deslocar a Portugal para cursar Medicina na Universidade de Lisboa, onde se destacou não apenas academicamente, mas também pelo seu engajamento em atividades políticas e culturais.


Durante os anos 1950, Neto tornou-se uma figura central na luta contra o colonialismo português. Participou da fundação e liderança do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), e utilizou tanto sua influência intelectual quanto sua coragem política para organizar resistência clandestina. Sua vida não esteve isenta de riscos: em 1959, foi detido pela PIDE, a polícia política do regime salazarista, mas acabou libertado após protestos de intelectuais e colegas médicos.



Além da política, Neto cultivava uma intensa paixão pela literatura e poesia. Em 1961, publicou o livro “Sagrada Esperança”, uma obra que refletia a luta, a dor e a esperança do povo angolano. Durante anos, escrevia poesia à noite, após longos dias de consultas médicas e atividades políticas, demonstrando uma capacidade notável de conciliar arte e ação política.

Com a independência de Angola em 11 de novembro de 1975, Neto tornou-se o primeiro presidente do país, liderando um período de consolidação do Estado recém-independente. O seu governo foi marcado pela tentativa de unir diferentes facções políticas e étnicas, pela promoção da educação e pela criação de políticas voltadas para a soberania nacional, num contexto de Guerra Fria e conflitos internos. Neto foi reconhecido internacionalmente, tanto por sua liderança política quanto por sua postura culta e diplomática, conseguindo apoio de países socialistas e mantendo o respeito de diversas lideranças africanas.


Apesar de ocupar a posição mais alta do poder, Neto mantinha uma vida pessoal simples: amava futebol, colecionava livros, escrevia poesia e cultivava relações humanas profundas com colegas e aliados. Era conhecido por utilizar humor e poesia para quebrar tensões políticas, uma habilidade incomum entre líderes de nações em conflito.



Infelizmente, a vida de Neto foi abreviada por problemas de saúde, incluindo diabetes, que se agravaram com o stress político e as exigências do cargo. Faleceu em 10 de setembro de 1979, aos 56 anos, deixando um legado duradouro como líder da independência de Angola, poeta e intelectual de renome.

Hoje, António Agostinho Neto é lembrado não apenas como o pai da nação angolana independente, mas também como uma referência cultural e literária, cuja obra poética continua a inspirar gerações de angolanos e africanos. Suas palavras e ações refletem a combinação rara de intelecto, sensibilidade artística e coragem política, tornando-o uma figura singular na história de África.